Estudo das leis morais - Parte 13: Perfeição moral (parte 2) [Final]

Com o texto de hoje, encerramos o maravilhoso estudo das leis morais. Espero que tenha sido proveitoso para todos. Vamos às questões, e após, à conclusão:

"913. Entre os vícios, qual o que podemos considerar radical?

— Já o dissemos muitas vezes: o egoísmo. Dele se deriva todo o mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos existe o egoísmo. Por   mais que luteis contra eles, não chegareis a extirpá-los enquanto não os atacardes pela raiz, enquanto não lhes houverdes destruído a causa. Que todos os vossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da sociedade. Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades.

914. Estando o egoísmo fundado no interesse pessoal, parece difícil extirpá-lo inteiramente do coração do homem. Chegaremos a isso?

— À medida que os homens se esclarecem sobre as coisas espirituais, dão menos valor às materiais; em seguida, é necessário reformar as instituições humanas, que o entretém e excitam. Isso depende da educação.

915. Sendo o egoísmo inerente à espécie humana, não será um obstáculo permanente ao reino do bem absoluto sobre a Terra?

— E certo que o egoísmo é o vosso mal maior, mas ele se liga à  inferioridade dos Espíritos encarnados na Terra e não à Humanidade em si mesma. Ora, os Espíritos se purificam nas encarnações sucessivas, perdendo o egoísmo assim como perdem as outras impurezas. Não tendes na Terra algum homem destituído de egoísmo e praticante da caridade? Existem em maior número do que julgais, mas conheceis poucos porque a virtude não se procura fazer notar. E se há um, por que não haverá dez? Se há dez, por que não haverá mil e assim por diante?

916. O egoísmo, longe de diminuir, cresce com a civilização, que parece excitá-lo e entretê-lo. Como poderá a causa destruir o efeito?

— Quanto maior é o mal mais horrível se torna. Era necessário que o egoísmo produzisse muito mal para fazer compreender a necessidade de sua extirpação. Quando os homens se tiverem despido do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, não se fazendo o mal e se ajudando reciprocamente pelo sentimento fraterno de solidariedade. Então o forte será o apoio e não o opressor do fraco, e não mais se verão homens desprovidos do necessário, porque todos praticarão a lei de justiça. Esse é o reino do bem que os Espíritos estão encarregados de preparar. (Ver item 784.)


917. Qual é o meio de se destruir o egoísmo?

— De todas as imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar é o egoísmo, porque se liga à influência da matéria, da qual o homem, ainda muito próximo da sua origem, não pôde libertar-se. Tudo concorre para entreter essa influencia: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material, e sobretudo com a compreensão que o Espiritismo vos dá quanto ao vosso estado futuro real e não desfigurado pelas ficções alegóricas. O Espiritismo bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábitos, as usanças e as relações sociais. O egoísmo se funda na importância da personalidade; ora, o Espiritismo bem compreendido, repito-o, faz ver as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece de alguma forma perante a imensidade. Ao destruir essa importância, ou pelo menos ao fazer ver a personalidade naquilo que de fato ela é, combate necessariamente o egoísmo.

E o contato que o homem experimenta do egoísmo dos outros que o torna geralmente egoísta, porque sente a necessidade de se pôr na defensiva. Vendo que os outros pensam em si mesmos e não nele, é levado a se ocupar de si mesmo mais que dos outros. Que o princípio da caridade e da fraternidade seja a base das instituições sociais, das relações legais de povo para povo e de homem para homem, e este pensará menos em si mesmo quando vir que os outros o fazem; sofrerá, assim, a influência moralizadora do exemplo e do contato. Em face do atual desdobramento do egoísmo, é necessária uma verdadeira virtude para abdicar da própria personalidade em proveito dos outros que em geral não o reconhecem. E a esses, sobretudo, que possuem essa virtude, que está aberto o reino dos céus; a eles sobretudo está reservada a felicidade dos eleitos, pois em verdade vos digo que no dia do juízo quem quer que não tenha pensado senão em si mesmo será posto de lado Comentário de Kardec: Louváveis esforços são feitos, sem dúvida, para ajudar a Humanidade a avançar; encorajam-se, estimulam-se, honram-se os bons sentimentos, hoje mais do que em qualquer outra época, e, não obstante, o verme devorador do egoísmo continua a ser a praga social. É um verdadeiro mal que se espalha por todo o mundo e do qual cada um é mais ou menos vítima. É necessário combatê-lo, portanto, como se combate uma epidemia. Para isso, deve-se procederá maneira dos médicos: remontará causa. Que se pesquisem em toda a estrutura da organização social desde a família até os povos, da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências patentes ou ocultas que excitam, entretêm e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Uma vez conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo; só restará então combatê-las, senão a todas ao mesmo tempo, pelo menos por parte, e pouco a pouco o veneno será extirpado. A cura poderá ser prolongada porque as causas são numerosas, mas não é impossível. De resto, não se chegará a esse ponto se não se atacar o mal pela raiz, ou seja. pela educação. Não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homem de bem. A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral, quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam as plantas novas. Essa arte, porém, requer muito fato, muita experiência e uma profunda observação. É um grave erro acreditar que basta ter a ciência para aplicá-la de maneira proveitosa. Quem quer que observe, desde o instante do seu nascimento, o filho do rico como o do pobre, notando todas as influências perniciosas que agem sobre ele em conseqüência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que o dirigem, e como em geral os meios empregados para o moralizar fracassam, não pode admirar-se de encontrar no mundo tantas confusões. Que se faça pela moral tanto quanto se faz pela inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refratárias, há também, em maior número do que se pensa as que requerem apenas boa cultura para darem bons frutos. (Ver item 872.)

O homem quer ser feliz: esse sentimento está na sua própria natureza; eis porque ele trabalha sem cessar para melhorar a sua situação na Terra, e procura as causas de seus males para os remediar. Quando compreender bem que o egoísmo é uma dessas causas, aquela que engendra o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, dos quais a todo momento ele é vítima, que leva a perturbação a todas as relações sociais, provoca as dissensões, destrói a confiança, obrigando-o a se manter constantemente numa atitude de defesa em face do seu vizinho, e que, enfim, do amigo faz um inimigo, então ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua própria felicidade. Acrescentaremos que é incompatível com a sua própria segurança. Dessa maneira, quanto mais sofrer mais sentirá a necessidade de o combater, como combate a peste, os animais daninhos e todos os outros flagelos. A isso será solicitado pelo seu próprio interesse. (Ver item 784.)

O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se ele deseja assegurar a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.


 918. Por que sinais se pode reconhecer no homem o progresso real que  deve elevar o seu Espírito na hierarquia espírita?

- O Espírito prova a sua elevação aliando todos os atos da sua vida corpórea constituem a prática da lei de Deus e quando compreende por antecipação a vida espiritual.

Comentário de Kardec: O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade na sua mais completa pureza. Se interrogar sua consciência sobre os atos praticados, perguntará se não violou essa lei, se não cometeu nenhum mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém teve de se queixar dele. Enfim, se fez para os outros tudo o que queria que lhe fizessem.

O homem possuído pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperança de recompensa, e sacrifica o seu interesse pela justiça.

Ele é bom, humano e benevolente para com todos, porque vê irmãos em  todos os homens, sem exceção de raças ou de crenças.

Se Deus lhe deu o poder e a riqueza, olha essas coisas como um depósito do qual deve usar para o bem, e disso não se envaidece porque sabe que Deus, que  lhos deu, também poderá retirá-los.

Se a ordem social colocou homens sob sua dependência, trata-os com bondade e benevolência porque são seus iguais perante Deus; usa de sua autoridade para lhes erguer o moral e não para os esmagar com o seu orgulho.

É indulgente para com as fraquezas dos outros porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência e se recorda destas palavras do Cristo: “Que aquele  que estiver sem pecado atire a primeira pedra”.

Não é vingativo: a exemplo de Jesus, perdoa as ofensas para não se lembrar senão dos benefícios, porque sabe que lhe será perdoado assim como tiver perdoado.

Respeita, enfim, nos seus semelhantes, todos os direitos decorrentes da lei  natural, como desejaria que respeitassem os seus.


919. Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? 
“Um sábio da antiguidade vo­lo disse: Conhece­te a ti mesmo
.”

a)  —  Conhecemos  toda  a  sabedoria  desta  máxima,  porém  a  dificuldade está precisamente em cada um conhecer­se a si mesmo. Qual o meio de consegui­lo?
 
“Fazei  o  que  eu  fazia,  quando  vivi  na  Terra:  ao  fim  do  dia,  interrogava  a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e ao seu anjo ­de ­guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-­me, Deus  o  assistiria.  Dirigi,  pois,  a  vós  mesmos  perguntas, interrogai­vos  sobre  o  que tendes  feito  e  com  que  objetivo  procedestes  em  tal  ou  tal  circunstância,  sobre  se fizestes  alguma  coisa  que,  feita  por  outrem,  censuraríeis,  sobre  se  obrastes  alguma ação  que  não  ousaríeis confessar.  Perguntai  ainda  mais:  ‘Se  aprouvesse  a  Deus chamar-­me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?’

“Examinai  o  que  pudestes  ter  obrado  contra  Deus,  depois  contra  o  vosso próximo  e,  finalmente,  contra  vós  mesmos.  As  respostas  vos  darão,  ou  o  descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.”

“O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém julgar-­se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor­ próprio  para  atenuar  as  faltas  e  torná-­las  desculpáveis?  O  avarento  se  considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito  real,  mas  tendes  um  meio  de  verificação  que  não  pode  iludir­-vos.  Quando estiverdes  indecisos  sobre  o  valor  de  uma  de  vossas  ações,  inquiri  como  a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na podereis ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na  aplicação  de  sua  justiça.  Procurai  também  saber  o  que  dela  pensam  os  vossos
semelhantes  e  não  desprezeis  a  opinião  dos  vossos  inimigos,  porquanto  esses nenhum  interesse  têm  em  mascarar  a  verdade  e  Deus  muitas  vezes  os  coloca  ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do
que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta  possuído  do  desejo  sério  de  melhorar-se,  a  fim  de  extirpar  de  si  os  maus pendores,  como  do  seu  jardim  arranca  as  ervas  daninhas;  dê  balanço  no  seu  dia moral  para,  a  exemplo  do  comerciante,  avaliar  suas  perdas  e  seus  lucros  e  eu  vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra
vida.”

“Formulai,  pois,  de  vós  para  convosco,  questões  nítidas  e  precisas  e  não temais  multiplicá-­las.  Justo  é  que  se  gastem  alguns  minutos  para  conquistar  uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos
garantam  repouso  na  velhice?  Não  constitui  esse  repouso  o  objeto  de  todos  os vossos  desejos,  o  fim  que  vos  faz  suportar  fadigas  e  privações  temporárias?  Pois bem!  que  é  esse  descanso  de  alguns  dias,  turbado  sempre  pelas  enfermidades  do corpo, em comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena  de  alguns  esforços?  Sei  haver  muitos  que  dizem  ser  positivo  o  presente  e incerto o futuro. Ora, esta exatamente a idéia que estamos encarregados de eliminar do  vosso  íntimo,  visto  desejarmos  fazer  que  compreendais esse  futuro,  de  modo  a não  restar nenhuma  dúvida  em  vossa  alma.  Por  isso  foi  que  primeiro  chamamos  a vossa atenção por meio de fenômenos capazes de ferir­-vos  os sentidos e que agora vos  damos  instruções,  que  cada  um  de  vós  se  acha  encarregado  de  espalhar.  Com este objetivo é que ditamos O Livro dos Espíritos.” SANTO AGOSTINHO


Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza
e o móvel dos nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que qualquer  máxima,  que  muitas  vezes  deixamos  de  aplicar  a  nós  mesmos.  Aquela  exige respostas categóricas, por um sim ou um não, que não abrem lugar para qualquer alternativa e  que  não  outros  tantos  argumentos  pessoais.  E,  pela  soma  que  derem  as  respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que existe em nós.
"

Com todo esse estudo das leis morais que realizamos aqui no blog, podemos perceber que Deus provê ao homem todos os meios necessários para a sua evolução.

Temos todas as condições que necessitamos para progredir. A Terra, assim como os outros mundos, fornecem a sala de aula para o nosso aprendizado e nossa evolução.

A cada encarnação, temos a chance de avançar. Devemos pois sair da estagnação e da repetição de erros em que vivemos, encarnação após encarnação. Precisamos quebrar o ciclo das falhas morais, para assim acelerar o nosso progresso.

De fato, não é tarefa fácil, mas toda grande caminhada começa com o primeiro passo. Quanto mais estudamos a Doutrina Espírita e nos empenhamos em nos melhorar, mais vamos compreendendo a nossa natureza espiritual.

O estudo das leis morais nos permite vislumbrar com exatidão a justiça e a inteligência infinitas de Deus, que tudo organizou da melhor maneira possível.

Que possa esse novo conhecimento adquirido nos orientar em nossas vidas, diariamente.


Para quem não tem O Livro dos Espíritos e quiser acessar online este capítulo, basta clicar aqui .

Veja as outras partes desse estudo:

Estudo das leis morais - Parte 1: A lei natural

Estudo das leis morais - Parte 2: A lei de adoração

Estudo das leis morais - Parte 3: A lei do trabalho

Estudo das leis morais - Parte 4: A leis de reprodução

Estudo das leis morais - Parte 5: A lei de conservação

Estudo das leis morais - Parte 6: A lei de destruição

Estudo das leis morais - Parte 7: A lei de sociedade

Estudo das leis morais - Parte 8: A lei do progresso

Estudo das leis morais - Parte 9: A lei de igualdade

Estudo das leis morais - Parte 10: A lei de liberdade 

Estudo das leis morais - Parte 11: A lei de justiça, amor e caridade

Estudo das leis morais - Parte 12: Perfeição moral (parte 1)


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